sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Capítulo 58

-Luan, desculpa-tento conversar, mas ele recolhe a sua roupa e sai em direção a casa, pelo jeito toquei em uma ferida dele que é tão dolorida quanto a minha-droga-me martirizo

Puxo a toalha e enrolo no meu corpo, pego minha roupa e as taças vazias, entro em casa, deixo as taças na pia e as peças de roupa na lavanderia.

Volto pra fora, pego o meu celular e desligo a filtragem e aquecimento da piscina. Volto pra casa, tranco tudo, apago as luzes e subo as escadas.

Ao chegar no quarto não encontro o Luan, mas escuto o barulho do chuveiro ligado.

Deixo a toalha molhada em cima da cama e entro no banheiro atrás dele. O encontro com a testa colada na parede, em baixo d'água. Abro o box e entro naquele espaço. Luan percebe minha presença, mas não se importa em virar.

-me desculpa, eu não quis dizer que o que eu passei foi mais dolorido, isso não é uma competição de quem sofreu mais e eu nem sabia que tinha sido tão dolorido assim pra você, desculpa-toco suas costas, mas ele permanece intacto

Abraço seu corpo fortemente e fico ali quietinha, só mostrando que estou aqui pra ele e que eu não quero competir a nossa dor.

-eu sei que cada gravidez é uma, mas eu não sei se tenho psicológico pra passar por essas fases de novo, mas se você quer a gente pode tentar, eu tenho a Ari, nós temos a Terapia, vai dar certo e se não der, pelo menos a gente tentou-tento novamente e nada-amor, por favor-toco seu peito-eu não quero brigar, eu só quero amar você, recuperar o tempo perdido
-me deixa um pouco quieto-ele diz
-não, quando eu tava mal eu te pedi insistentemente pra que você fosse embora e você nunca ligou pro que eu disse, você ficou por mim, mesmo se fosse pra levar pedrada, você nunca desistiu de mim e eu nunca vou esquecer isso
-não estou te pedindo pra ir embora Mel, só quero ficar sozinho um pouco
-não, me deixa aqui, olha pra mim, vamos fazer mais amor e deixar as coisas por conta de Deus-peço e ele nem responde-por favor-imploro sentindo minha voz falhar-moreno-falo manhosa e sinto ele endireitar

Eu sempre o chamei de moreno e depois que fiquei doente, eu nunca mais havia o chamado assim.

-o que disse?-ele pergunta ainda de costas pra mim
-moreno-repito
-você nunca mais tinha me chamado assim-ele se vira e me olha com seus olhos vermelhos
-eu sei e eu nunca devia ter parado de te chamar assim-choramingo-o que eu passei foi terrível, eu sei, eu que vivi, mas a depressão destrói muito mais quem tá por perto e eu não tenho dúvidas do quanto ela te destruiu-tento fazer a minha voz não falhar-a doença me tirou a vontade de viver e você trouxe essa vontade de volta pra mim, eu nunca devia ter deixado de dizer o quanto eu te amo moreno, você é o que de melhor surgiu na minha vida, bagunçou toda a minha vida certinha, bagunçou meus sentimentos e todo o meu ser, você é o meu moreno, nunca deixou de ser, eu sempre amei você e nunca vou deixar de amar-toco seu rosto-me desculpa por dizer aquilo no impulso, é que eu preciso começar a trabalhar esse meu medo de ter outro bebê, eu ainda não estava preparada pra esse assunto, ele mexe comigo e não é de uma maneira boa, tudo o que eu não quero é voltar a ser como eu fiquei, voltar a te afastar, voltar a te maltratar, voltar a deixar de viver, voltar a ficar sozinha, eu não quero
-e você não vai, eu prometo-ele segura meu rosto entre as mãos-eu não tenho dúvidas da sua dor Mel, de tudo o que você sofreu, mas não fala como se pra mim tivesse sido fácil, porque não foi, ter que me manter longe quando tudo o que eu mais queria era ficar perto, foi dolorido, te ver me afastar de você e às vezes da Maria, foi dolorido
-eu sei que foi-fungo sentindo minhas lágrimas caindo-eu não disse o contrário, por mais que tenha parecido, não foi o que eu disse moreno-nego com a cabeça-é que você nunca falou abertamente comigo sobre o quanto foi difícil pra você, eu nunca imaginei que tivesse sido tão devastador
-eu não disse porque eu achei que tudo isso era passado
-é passado-roço meu nariz em sua bochecha-foi difícil pra nós dois e pra toda nossa família, mas você me ajudou e eu superei-sou sincera-eu só não imaginei que o assunto filho surgiria tão rápido-ele ri
-pra que perder tempo?-pergunta de olhos fechados
-eu preciso que você saiba que eu não estou preparada ainda, que eu tenho medo do desconhecido, medo de tudo acontecer de novo e que eu não sei como enfrentar esse medo, mas se você quer continuar gozando dentro eu não vou me importar e se for pra acontecer, vai acontecer
-você não está preparada, eu entendi-ele afirma-usaremos camisinha, mas me promete que isso será algo que você vai discutir com a Ariane?
-claro que eu prometo, e vou inclusive falar disso na nossa terapia de casal, me lembra
-quando tem de novo?
-amanhã
-que bom então-ele faz carinho em minha cintura-me chama daquilo de novo
-daquilo o que?-me afasto e encaro seu rosto
-aquele apelido que fazia tempo que você não me chamava
-moreno?-ele confirma-meu moreno-me estico e beijo seu queixo-fica pronto pra mim de novo e faz amor comigo-abraço ele pelo pescoço
-se ficar de joelhos e me ajudar, eu fico pronto na hora
-me perdoa?
-claro que eu perdôo
-eu amo você moreno
-eu amo você preta-ele beija a ponta do meu nariz
-preciso te contar uma coisa
-o que?
-acho que vou sair do Faro e começar a trabalhar em casa, com Instagram, com eventos, o que acha?
-é sério?-me olha preocupado
-depois falamos disso-pisco pra ele

Roço meu nariz no dele e o Luan fecha os olhos sorrindo feito bobo. Passo a roçar nossos lábios e aproveito a situação pra iniciar um beijo, eu espero que o Bernardo ou a Mada não acordem, mas se caso acontecer, preciso ter pelo menos terminado aqui.

[...]

Um dos dias mais tensos da nossa vida, chegou. Hoje será a audiência de guarda do Bernardo. Tentamos um acordo com a Priscila, onde o Bernardo pudesse morar com a gente e ela ficar com ele em um final de semana a cada quinze dias, mas não rolou.

Passamos dias sendo acompanhados por uma assistente social e quando fomos obrigados a levar o Bernardo pra Minas, a assistente foi junto, o que fez os nossos corações se aliviarem.

Havíamos acabado de chegar quando encontramos alguns repórteres que descobriram sobre o pedido de guarda, não sei como, mas descobriram.

Well que veio nos ajudar, ele desce na frente e me ajuda a descer. Logo em seguida ele ajuda o Luan.

Nossa pequena ficou com a Sil, Bernardo veio mais cedo com o meu sogro e minha sogra.

Um dos nossos advogados representante chega também e se junta a nós rapidamente.

-estão preparados?-ele pergunta
-vou poder entrar também?-pergunto e ele nega
-você vai testemunhar
-ok então-concordo

Ficamos esperando em paz, até a Priscila chegar acompanhada de um homem bem apessoado. Eles parecem mais amantes do que, advogado e cliente.

-conhece?-Luan pergunta pro Roberto, um dos nossos advogados
-sim, Edgar Cunha, ele nunca perdeu uma causa
-e você?-pergunto preocupada
-também não-ele nega com um sorriso no rosto-e também não vai ser hoje que vamos perder
-que bom, que bom mesmo-passo confiança e ele sorri tranquilo

Luan fica em pé e me puxa pra um abraço apertado. Quando um cara finalmente vem o chamar, ele me aperta um pouco mais.

-fica tranquilo, vai dar certo!-afirmo com convicção
-vai dar certo-ele se afasta, me rouba um beijo bom e sai com o Roberto

Sou guiada até a sala onde outras testemunhas estão e vejo rostos desconhecidos, algumas mulheres tão fúteis quanto a Priscila me olham e soltam sorrisos irônicos.

-pode olhar, mas olha mesmo, eu sou o que vocês nunca serão, linda, elegante, fina e educada-solto sem conseguir me controlar

Me aproximo do Rober enquanto escuto buchichos e me sento ao seu lado.

-fica calma gatinha, se bobear vocês perdem tudo-ele toca meu nariz e eu deito minha cabeça em seu ombro

Sinto flashes na gente vindo de uma daquelas mulheres. Acabo rindo e o Rober faz o mesmo.

-deixa elas espalharem essa foto por ai, em vez de me massacrarem, vão massacrar elas mesmo-falo baixo
-isso, deixa elas achando que vão te prejudicar-ele beija minha testa

Sinto o Well sentar do meu outro lado e pego na mão dele. Ele sorri e aperta sua mão contra minha.

Novamente sinto flashes e dessa vez eu olho pra foto e faço bico, como se eu tivesse mandando beijo. A mulher que tira a foto me olha rindo alto, eu faço questão de retribuir a risada e ela fica sem entender.

Depois de alguns minutos começaram a chamar as testemunhas da Priscila. Aquelas mulheres começaram a ir e eu só olhava, como é que alguém pode acreditar em algo que sai da boca de pessoas como elas?

Uma nova mulher é chamada como testemunha da Priscila e vejo que é uma moça simples e me parece educada. No meio de tanta mulher fútil, acabei não vendo ela. Ela me olha e sorri simpática antes de sair, retribuo o sorriso e continuo quieta.
-essa não parece igual as outras-Rober diz tentando não parecer animado
-não é mesmo-confirmo e agora sim ele se anima-pode parar, você e a Hellen vão voltar-ele apenas dá de ombros
As testemunhas dela acabaram, agora só tem testemunha do Luan ou no caso nossa. O primeiro a ser chamado é o Rober que se levanta e sai.

Flávia a pediatra do Bernardo, senta ao meu lado e fica me olhando.

-tá tudo bem?-pergunta preocupada
-tô suando né?-falo com ela e ela concorda-é que eu tô apreensiva, nervosa
-comeu hoje?
-sim e como comi-afirmo e ela sorri
-fica calma, se você passar mal não vai poder ajudar o Luan a ganhar a guarda do Bernardo-ela diz como incentivo
-obrigada-agradeço-obrigada mesmo-tiro o casaco e enxugo meu suor, respiro fundo e consigo aos poucos controlar minha ansiedade
-Melissa Andrade Santana-o homem chama o meu nome



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