Me levanto, visto novamente o casaco e sigo até o moço, ele me pede meus documentos, celular, tudo, mas documentos é tudo o que eu tenho, eu e o Luan deixamos o celular no carro.
Espero um pouco até escutar chamarem meu nome lá dentro na sala.
Entro o mais confiante possível e me sento na cadeira de frente a juíza da vara da infância.
Não olho pra ninguém por enquanto, sou obrigada a jurar falar a verdade pelo bem do Bernardo e assim eu faço.
O juíz e os advogados me fazem perguntas e eu respondo, quando eles me deixam livre, eu conto tudo o que faltou dizer, todos os pontos positivos do Bernardo vir morar com a gente, todos os negativos dele ir morar com a Priscila, tudo mesmo.
-ela é mulher do Luan, peço que o testemunho dela seja anulado-o advogado da Priscila diz assim que termino
-sou esposa sim, mas antes de tudo eu sou mãe e sou humana, ver a situação do Bernardo quando ele veio pra casa me fez chorar por dentro e por fora, porque ele é só uma criança-começo a debater com ele e ele tenta me calar, mas a juíza me dá a palavra novamente-a primeira vez que ele veio pra minha casa, pra gente se conhecer, ele quebrou um vaso que eu tinha na sala, o desespero dele foi tão grande que ele machucou o pé e nem se importou com isso, ele me pedia desculpa desesperadamente, me pedindo pra não brigar, pra não bater nele, eu fiquei sem entender até ele voltar todo roxo e com o cabelo quase raspado, só porque quebrou um prato de coleção importante. Esses dias a Priscila apareceu do nada na minha casa querendo ver o filho, eu me sensibilizei com ele e com a saudade e deixei ela ficar um pouco, o Bernardo quebrou um copo que ele estava comendo sorvete e a primeira reação dele foi pedir desculpa apressadamente pra mãe dele, eu o tranquilizei disse que os copos eram meus e que a mãe dele não tinha que brigar e nem faria isso. Ele ficou com a mãe dele por mais um tempo e ela resolveu sussurrar coisas pra ele, pra que nem eu, nem o Luan ouvissimos, o Bernardo discordou do que ela disse e quando ele falou não alto, levou um tapa na nossa frente, me desculpa excelentíssima, mas se isso é ser humano, eu desisto do mundo que eu vivo-nego
obrigada-a juíza agradece e pede pra que eu me retire
Olho pro Luan tentando decifrar como anda o processo, mas ele apenas abaixa a cabeça e não me olha.
Saio da sala e fico ali fora mesmo. Respiro fundo preocupada se fui bem ou não. Encontro uma senhora, bonita até, ela me parece com a Priscila, só pode ser mãe da desgraçada. Desvio o olhar do dela e fico quietinha no meu canto sofrendo calada.
Vejo ela se aproximar e continuo na minha. Ela sorri simpática pra mim e eu retribuo mesmo sem muita vontade.
-você é a esposa do Luan?-ela pergunta
-sou eu mesma, Mel-estico a mão e ela aperta
-Isabel, eu sou mãe da Priscila
-ah-é a única coisa que consigo dizer diante a afirmação de quem ela é
-senti insatisfação-ela dá um sorriso
-desculpa, mas não consigo fingir, eu não gosto da Priscila, nem do jeito que ela trata o Bernardo
-ela é minha filha-ela diz firme e penso em correr da conversa, mas ela continua-porém ela nunca foi mãe do Bernardo, eu sempre cuidei dele, tentei educar, ela só aparecia nos momentos bons e quando as coisas não aconteciam como ela queria, ela batia no pequeno sem dó, esse foi um dos motivos que eu a expulsei de casa, eu disse que se ela continuasse a bater nele, era pra ela sair de casa e ficar com ele não só nas horas boas, mas nas ruins também e foi o que aconteceu, porém quem sofreu e sofre é o Bernardo, quem eu menos queria que sofresse
-você testemunhou?-pergunto curiosa, isso seria o máximo pro Luan
-sim
-disse essas coisas?-fico ainda mais curiosa
-falei sim-ela confirma-eu vi o Bernardo, vi o tanto que ele tá bem, como ele tá todo feliz, vocês são o melhor pra ele e eu disse isso lá, espero que vocês consigam a guarda e que eu possa sempre ir visita-lo
-se ganharmos, quando for visita da Priscila, ela não vai deixar a senhora ver o Bernardo, mas a minha casa estará sempre aberta pra você-não consigo conter o meu sorriso de satisfação por saber que ela nos deu uma chance maior-obrigada por isso-agradeço
-só cuida do pequeno como se ele fosse seu filho de verdade
-eu já cuido-sorrio emocionada-quando eu soube dele, eu jurava que seria um empecilho, mas ele não é, ele é da família
-que bom ouvir isso, que bom-ela diz também emocionada e me pede um abraço
Eu, óbvio, abro os braços e me encaixo em um abraço com ela.
Ficamos alguns minutos assim e logo nos separamos. Ela sorri limpando umas lágrimas e sai da minha vista, eu fico ali quietinha, esperando o meu amor.
Rober e o Well que haviam sumido desde a hora que foram testemunhar, aparecem e param ao meu lado. Olho pros dois tentando encontrar calma, mas percebo que assim como eu, eles estão preocupados.
-vocês acham o que? O Luan olhou pra vocês na hora que vocês estavam falando?
-eu não sei o que achar, Luan não olhou pra mim não, permaneceu com a cabeça baixa e não soltou nenhuma expressão que eu pudesse entender como estava o andar da carruagem-Rober diz me deixando preocupada
-pra mim ele também não olhou, ficou sério, só de olho em uns papéis que tinham na mesa, eu tentei achar uma expressão e também não consegui-Well nega e eu bufo frustrada
-não é possível que deu errado, será que ela usou a lição que dei nela aquele dia contra o Luan?-pergunto pro Rober ainda mais preocupada
-acho que não, o motorista daquele dia estava ai, se ela envolvesse essa história ele seria incluso como testemunha e ele não foi-ele me tranquiliza
-você viu ele?
-vai sim, eu fiquei responsável por recebê-lo e por dispensa-lo-ele faz sinal de que o dispensa-lo era dar dinheiro
-entendi-deito minha cabeça no ombro do Well e o Rober fica perto segurando a minha mão-quero saber cadê meus amigos, a Bruna
-estão vindo já-Well avisa e eu fico quieta esperando
Alguns minutos depois vejo meus amigos se aproximando, mas antes que eles possam chegar, Luan sai da sala com o advogado. Ignoro todo mundo e me aproximo dele que não tem expressão alguma.
-que foi? Que cara é essa? Qual foi o resultado?-pergunto preocupada
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