terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Capítulo 3

Voltamos pra perto de todos e agora pude ver que meu pai e o meu sogro eram os comandantes da churrasqueira.

Nos sentamos na rodinha que os meus amigos e os amigos dele estão e começo  conversar com a Bruna e a Lia. As duas me olham querendo uma explicação que provavelmente é por causa do beijo que elas viram, mas eu jamais daria.

A campainha toca novamente e meu coração se aperta, será que nunca vai parar de chegar gente nesse lugar?

-Minha mãe atende-Luan segura minha mão quando tento me levantar
-quem é agora?-pergunto a ele que faz cara de interrogação
-também não sei-nega

Me viro para as meninas novamente e as duas começam a falar de ir ao cabelereiro. Eu não posso largar minha filha por luxo, por isso nego de imediato.

Olho a todo momento pra porta que dá acesso o fundo da casa, e minutos depois vejo a Bel passar por ali. Meu coração se encheu de alegria. Eu não acredito que ela realmente está aqui.

Me levanto e vou de pressa até ela. Seu olhar não muda ao ver meu estado, ela me acolhe de uma maneira que não sei explicar.

-que saudade-ela sussurra no abraço e eu concordo mesmo ela não vendo

Fiquei alguns minutos assim e ela em nenhum momento tentou se afastar,  mas eu o fiz. Ela me olhou e me analisou.

-ta muito magrinha, desse jeito vou ter que te jogar pros cachorros, só eles gostam de osso-faz piada com a minha magreza
-não está com dó de mim?-pergunto a olhando
-por que eu teria dó de você? Você está assim porque quer, ninguém te obrigou, você tem família, amigos, uma filha linda e um marido maravilhoso, todos eles estão aqui pra te ajudar, mas se você não quer o que podemos fazer? Dó eu não tenho, isso é uma consequência das suas decisões, quem tem que ter dó de você, é você mesma, e quando você perceber que está acabada ou pode ser tarde demais, ou mesmo assim você ainda terá todos aqui por você, só espero que você opte pela segunda opção-ai está a minha Bel, que nunca passa a mão na minha cabeça, e escutar ela falar assim me fez ter medo, eu realmente não quero que seja tarde demais

Depois de ficar mais um pouco colada nela liberei a mesma pra falar com todo mundo e voltei pro meu marido.

Ele me olha encantado e eu apenas desvio o olhar sem graça com a situação.

Ninguém ali bebeu qualquer tipo de bebida alcóolica. Alguns beberam refrigerante e outros suco. Juro que me surpreendi. Geralmente é nesses churrascos em família que os homens metem os pés pelas mãos.

Não me deixaram fazer exatamente nada o dia inteiro. Quando estava dando a hora da janta minha mãe e a minha sogra se enfiaram na cozinha e prepararam tudo.

Comemos em um clima agradável, o meu desconforto em relação à muita gente ali aos poucoa foi passando e assim como prometido o Luan não saiu do meu lado nem pra ir ao banheiro.

A Maria Eduarda já dormia e o Miguel também. Todos sentaram a minha volta em uma roda grande. Sabia que boa coisa não viria. Grudei na mão do Luan com todas as minhas forças e ele sequer fez um movimento para se soltar.

-eu vejo em seus olhos que não está confortável por ter tanta gente aqui-meu pai começa-eu te conheço como a palma da minha mão. Conheço os seus cinco sorrisos, conheço quando está muito feliz, conheço quando está triste, mas tenta passar para as pessoas ao seu redor o contrário do que realmente sente-ele sorri triste-Conheço quando você mente e desvia o olhar pra não ter que mentir olhando nos olhos das pessoas. Conheço os seus defeitos e as suas muitas qualidades. Eu te conheço como ninguém, aliás, conhecia. Hoje eu te olho e vejo apenas tristeza, falta de vontade e falta de amor próprio, eu te olho e tento entender como isso começou, mas eu não consigo, você se fechou pro mundo, você se fechou pra gente-ele disse triste e abaixou a cabeça

Bruna funga e eu a olho, ela está pronta pra começar um discurso. Então é isso, eles se juntaram pra jogar as verdades na minha cara. Solto a mão do Luan decepcionada, mas ele retoma o encaixe de nossos dedos.

-eu vejo você aqui, mas eu não te reconheço mais, você não vive, você não dá um sorriso de verdade, você tem uma aparência triste e mortífera. Eu só quero o seu bem, eu preciso que você lute pra continuar a viver. Preciso que me olhe com os olhinhos brilhando e que me ligue a qualquer momento do dia me chamando pra ir ao shopping, ou pra ir ao cabeleireiro. Eu só quero te ligar e escutar você negando um passeio comigo porque meu irmão chegou e você quer matar a saudade. Quero te xingar e receber um xingamento em troca. Saudade de sair pra jantar com você e você roubar meu celular só pra não me deixar falar com o Jeff, eu te amo amiga, só quero o seu bem, quero que você lute-limpou as lágrimas que escorriam dos seus olhos e eu nem me preocupei em fazer isso, eu sabia que viria mais
-saudade de você nos shows do Luan me mandando me virar pra ir buscar um japonês, ou um fest food, saudade de você gritando achando que está cantando super bem, saudade de ver os seus chiliques quando via o Luan olhar descaradamente pra um decote-Rober diz me fazendo soltar um sorriso bobo-saudade até de ser expulso do camarim só pra você e o Luan passar uns minutos sozinhos, saudade da minha baixinha-ele encerra seu discurso
-eu sempre vi alegria em você-minha sogra começa e eu a olho-seus olhos sempre brilharam lindamente, sua boca tinha um contraste maravilho em um sorriso, seus cabelos negros sempre bem cuidados, você contagiava exatamente todos ao seu redor, você era sempre serelepe, corria pra academia, fazia os exercícios e corria de volta pra casa, super apaixonada pelo trabalho e pelos amigos, você pode ver que sua vida já não é mais a mesma, você precisa se cuidar

Exatamente todos falaram do que mais sentiam saudade em mim e a cada palavra eu me sentia desabar ainda mais. Depois que todos falaram eu olho pro Luan esperando que ele faça o mesmo, porém eu o vejo de cabeça baixa chorando feito criança.

Todos se despedem de longe e saem. Eu não consigo me retirar do meu lugar, ver o Luan triste, ver o mal que eu estou causando a ele faz meu estômago embrulhar.

-me desculpa-peço entre soluços

Ele se ajoelha na minha frente e me olha com aqueles olhos escuros cheios de dor. Vejo súplica em seu olhar, e logo em seguida em suas palavras.

-você pode não perceber, você pode negar, você pode até não aceitar, mas olha pra você, você não é mais a minha menina, você não é aquela que me fez juras no dia do nosso casamento, você não é mais a minha mulher, porém eu sei que a minha Mel está trancada ai dentro de você e louca pra sair-suspira limpando minhas lágrimas-olha tudo que estamos perdendo de viver juntos-alisa meu rosto-você me disse a alguns dias que a Madu está muito agitada, chorona. Isso tudo é reflexo do que você é-ele diz me assustando, eu estou atingindo minha filha?-as suas atitudes estão sendo espelhadas nela, isso não está afetando apenas você e a gente, mas também a nossa filha. Se você não quer se tratar por você, por nós, faz isso por ela, é tudo o que eu te peço-limpa as próprias lágrimas

O meu mundo caiu. Foi como se eu tivesse tomado um tapa na cara. Eu não estar bem é uma coisa, mas isso influenciar no bem estar da minha filha, isso eu não admito. Eu preciso de ajuda, para salvar mais do que a mim, mas a minha família.

-eu vou procurar um acompanhamento psiquiátrico, eu prometo-sussurro me ajoelhando junto a ele-eu juro que vou me cuidar e vou trazer a sua Mel de volta-o abraço e escuto ele suspirar aliviado


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♥️♥️♥️

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