Capítulo 39

-estávamos subindo, ele esbarrou

Maria no mesmo momento começa chorar. Pego ela no colo e dou pro Luan, me aproximo do Bernardo que continua da mesma maneira e ele do nada começa a se desculpar.

-me desculpa, eu não fiz pu querê, desculpa tia, pu favô, desculpa, eu nunca mais vou fazê-ele diz desesperado e isso me preocupa
-calma Bernardo, foi só um vaso, depois eu compro outro, não se preocupa, só me diz se você se machucou-procuro algum corte nele e ele aponta pro pé que tem um corte superficial bem perto do dedão-vem-pego ele no colo, sem me importar se ele quer ou não e sento ele no sofá

Luan acalma a Maria que para de chorar, mas não volta a dormir. Pego a maleta de primeiros socorros ali embaixo e me sento ao lado do Bernardo.

-você gosta do Olaf da Frozen?-pergunto já pegando um band aid
-gosto-ele diz choroso-desculpa Mel-pede de novo dessa vez com os olhos cheios de lágrimas
-não precisa se desculpar, foi só um vaso, vou limpar e depois coloco outro, fica tranquilo, não vou brigar
-não vai bigâ?-pergunta manhoso e eu tenho vontade de morde-lo
-foi sem querer?-pergunto e ele concorda com a cabeça-então pronto, eu não vou brigar
-desculpa Mel-pede de novo e me abraça
-chega de desculpas, me dá um beijo aqui e tá tudo certo-me afasto e aponto pra minha bochecha

Ele se aproxima e me dá um beijo estalado na bochecha. Limpo o sangue do machucado, passo um remédio pra matar qualquer bactéria que possa ter se instalado ali e coloco o band aid.

-quer beijinho no machucado?-brinco com ele
-dá beijinho-ele diz sério

Dou um beijinho em cima do band aid e me levanto.

-prontinho
-bigada Mel-ele agradece todo educadinho
-de nada

Me aproximo do Luan pra pegar a Maria e ele me rouba um selinho.

-onde estavam indo?-pego a minha filha que fica nos olhando
-ele disse que tava com sono, ia levar ele pra dormir lá no quarto da Maria
-então vai lá e depois volta pra gente conversar
-tá bom-beija minha testa e se aproxima do Bernardo

Eles sobem as escadas juntinhos e eu entro na cozinha dando de cara com a Dulce com uma vassoura e uma pá.

-você escutou?-pergunto
-sim, eu tava indo ver o que era pra poder limpar e vi o menino desesperado, preferi dar espaço
-ele acha que eu sou uma maldrasta Dulce-desabafo sentindo um peso em meus ombros
-você não é mal, todo mundo que conhece você e o seu coração sabe o quanto você é uma pessoa doce, amorosa, mesmo depois da vida te fazer passar por coisas horríveis-ela me elogia e eu faço biquinho fingindo chorar-eu mal conheço esse menino e já acho que tem algo de errado com ele-ela diz pensativa
-eu também acho, mas não vou dizer isso pro Luan, ele pode achar que é implicância com a mãe o Bernardo, que eu ainda nem conheço e não quero conhecer nem tão cedo
-nem conheço essa mulher e já nem gosto dela também-ela faz uma careta me arrancando uma risada e sai pra limpar a sujeira na sala

Pego uma pera na fruteira, uma colherzinha, corto ela no meio e sigo pra mesa na sala de jantar. Coloco a Madu na cadeirinha dela e me sento ao seu lado. Dou raspinhas da fruta pra ela enquanto como a outra metade.

Depois de alguns minutos ali sozinha com ela o Luan aparece na cozinha com um brilho no olhar que eu não sei nem explicar o motivo.

-o que foi?-pergunto, ele puxa a cadeira ao meu lado e se senta de "frente" comigo
-você ainda tem medo de tratar ele mal?-ele pergunta me deixando sem graça
-tenho, agora tenho ainda mais medo, ouviu o que ele disse? Ele acha que sou mal, que vou fazer mal a ele, qualquer errinho meu vai ser um cúmulo pra ele, e tudo o que eu quero é o contrário do mal, eu só quero o bem dele
-eu sei disso, fica tranquila, eu vou conversar com a Priscila sobre isso, foi ridículo o que ela disse pra ele, ele já chegou aqui com um pé atrás com você e ele nem te conhecia
-fiquei me sentindo tão mal quando ele me olhou com medo, mal respondeu o que eu disse, mal falou comigo-fico emotiva e ele me puxa pra um abraço estranho, mas me lembro de algo é o afasto de mim-e você é um idiota-lhe dou um tapa e ele ri
-por quê? Eu tô aqui num tô?
-tá, mas disse que não estaria, eu não me preparei pra conhecer ele assim do nada e pelo jeito ele foi bem preparado pra me conhecer e me odiar-faço bico
-eu vou ajeitar isso, prometo
-não promete o que não pode cumprir-reviro os olhos-você mal conhece a mãe desse menino, e você mal o conhece também, quem você acha que ele vai escutar?-pergunto séria-eu posso fazer ele me amar enquanto ele estiver aqui, mas no momento que ele estiver com a mãe, ela pode muito bem encher a cabecinha dele de mentiras, dizer que sou má, pedir pra ele me odiar e fazer da nossa vida um inferno
-vou conversar com o Bernardo, vou dizer a ele que mentirinha do bem é válida quando se trata da gente e pedir pra ele mentir um pouco pra mãe
-sem mentiras, por favor, sem mentiras-imploro
-tudo bem então, sem mentiras, mas omitir pode né?-ele me faz rir
-que ódio que eu tenho quando você me faz rir quando tudo o que eu quero é ficar brava contigo-seguro seu rosto e lhe dou um selinho rápido, pois a Maria ainda presta atenção na gente-decidiu do nada vim embora?
-não né? Você desligou o telefone na minha cara, mentiu pra mim que eu sei, eu sabia que eu estava fazendo algo errado, eu prometi voltar hoje e não importa o que a Priscila fizesse, eu tinha que cumprir minha promessa
-e como a convenceu? Ela veio também?-pergunto curiosa, era tudo o que eu queria saber desde quando eu os vi
-eu sou o pai dele, bati o pé dizendo que ele iria vim comigo por bem ou por mal e ela não teve escolha, o Bernardo disse que queria vim e ela acabou deixando, ela não veio, só vem amanhã, mas me fez prometer que vou dormir com o Bernardo-ele faz careta e eu me controlo pra não revirar os olhos
-você não precisa cumprir promessas feitas a ela, você deita com o Bernardo e quando ele dormir, você vem pro nosso quarto e caso ele chore durante a madrugada, você vai no quarto e faz ele dormir de novo-dou de ombros e ele ri concordando
-eu gostei bastante disso-beija minha bochecha-quero terminar na nossa cama o que eu deixei pela metade aquele dia-sussurra no meu ouvido e sinto meu corpo inteiro se arrepiar
-para-me remexo e tiro seu rosto de perto da minha orelha-tô com medo da Priscila nos afastar-confesso e ele sorri
-acha que há possibilidade disso?
-viu como o Bernardo chegou aqui com medo de mim? Ela com certeza encheu a cabeça dele de maldades, com certeza mandou ele não me dar confiança e vai ser sempre assim, ela vai fazer ele me odiar, vai fazer ele dizer que não quer vim aqui por culpa minha e você vai acabar caindo, vai estar mais lá do que aqui, ela vai conseguir nos afastar, vai te tirar aos poucos de mim e se algo acontecer, eu não vou ser capaz de te perdoar de novo, de novo não-nego segurando minhas lágrimas e ele alisa o meu rosto-um errinho seu, eu não vou ser capaz

Desvio o meu olhar pra Maria Eduarda que parece entender o que está acontecendo, já que faz um biquinho me olhando e eu não consigo mais controlar as minhas lágrimas.

-Dulce-Luan diz alto pra ela que aparece rapidamente
-oi Luan, quer alguma coisa?
-fica com a Madu cinco minutinhos e depois pode ir, vamos jantar nos meus pais
-claro que fico, quantos minutos for preciso-ela pega a pequena no colo e sai pra cozinha
-vem cá-ele me levanta da cadeira e me puxa até o sofá ali na parte de trás
-que foi?-pergunto chorosa, já não consigo mais controlar o meu choro
-eu fiz muita merda nessa minha vida e a pior de todas foi a que eu fiz a você, eu te perdi pra outro e só aí eu percebi a burrada que eu fiz. Tudo isso foi tipo aquele velho ditado, "tem que perder pra dar valor", eu precisei chegar ao fundo do poço sem você, pra perceber que na verdade eu tinha perdido o que eu tinha de mais valioso na minha vida. Eu errei, errei muito e admito, não jogo o meu erro pro meu lado humano igual todo mundo que erra e diz "eu errei, sou humano, errar é humano". O erro é meu e só eu sei o quanto sofri com as consequências do meu erro, por isso eu não quero errar de novo, não quero fazer merda de novo, te ver hoje tratando o Bernardo como você tratou foi só uma confirmação do que eu já sabia, que você é incrível-ele limpa minhas lágrimas que escorrem sem parar-quando eu repito pra você que eu não vou errar de novo, eu não tô repetindo pra que eu mesmo entenda e não cometa o erro, eu tô repetindo pra te deixar tranquila, porque o meu ser, o meu corpo, tudo em mim, não vai errar de novo, não nisso, posso errar ao comprar seu absorvente-dou risada-posso errar o número do seu sapato ou até a cor de alguma coisa, mas te trair, nunca mais, porque como eu já te disse, trair você é como trair a mim mesmo, trair meus sentimentos, trair a minha verdade. A gente se escolheu pra viver uma vida inteira Mel e ninguém vai interromper isso, a gente vai viver tudo que há pra viver, juntos, enfrentando tudo juntos, com errinhos banais, mais nada que nos afaste, eu não vou deixar ela nos afastar, nunca, você veio pra iluminar a minha vida e eu não quero escuridão de novo-me agarro nele chorando tudo que tenho vontade e quando consigo me acalmar, eu me afasto e ele me ajuda a limpar o rosto
-eu sei que algum dia desses vamos nos afastar um pouquinho, pra você poder ir, ficar mais a vontade com o Bernardo, mas não o suficiente pra nos separar, eu só peço que se algum dia você sequer pensar em me trair, lembre-se que eu amo você e pense se vale a pena trocar tudo o que construímos por um momento, lembre-se que estamos sempre aqui te esperando voltar pra casa, voltar pra gente, lembre-se que sou eu que tô segurando sua mão sempre que precisa-lhe dou um selinho demorado, me levanto e volto pra casa deixando ele ali sozinho pra refletir sobre essa curta conversa

Entro na cozinha e encontro a Dulce terminando de dar a pera pra Maria.

-Dulce, obrigada por olhar ela viu-agradeço olhando ele dar as raspinhas da fruta pra minha filha-e pode ir já, eu nem sabia que a gente ia jantar fora, mas como você pode perceber, vamos, mas tudo bem, tô com saudade da comida da minha sogrinha
-ah é?-ela fingi estar ofendida e eu dou risada
-só você mesmo pra me fazer rir-beijo sua bochecha-sua comida é a segunda melhor que já comi
-e qual é a primeira?
-a comida da Bel-dou de ombros
-ah, já que é da minha amiga tudo bem-ela diz e eu dou risada do seu jeito
-vou subir pra dar um banho nessa porquinha e tomar um banho também-continuo olhando a Dulce terminar de dar a Pera pra ela
-comeu tudo-Dulce dá um beijo na bochecha dela e ela se assanha toda
-bora tomar banho porquinha, a Dulce vai pra casa agora e só volta amanhã-converso com a minha filha que ri-obrigada mesmo viu Dulce-pego a Madu no colo-até amanhã-beijo sua bochecha
-até amanhã-ela sorri pra mim

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♥️♥️♥️